terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Produção de matérias-primas para biodiesel deve ser mesclada

A produção brasileira de matérias-primas para o biodiesel deve diversificar sua matriz e apostar, primariamente, na agricultura industrial, com a agricultura familiar como complemento social. Essa é a conclusão de especialistas no assunto que foram consultados pelo BOM DIA.

Com uma demanda de mercado de aproximadamente 800 milhões de litros de biodiesel por ano, a produção familiar, principal aposta do governo, consegue suprir, hoje, apenas 6,25% desse total – ou seja, 50 milhões de litros do novo combustível.

A capacidade produtiva das usinas de biodiesel instaladas, contudo, poderia produzir cerca de 1,5 bilhão de litros, o que faria o país exportar o combustível. Não o faz por falta de material.

“Investir em agricultura familiar é responsável, mas não pode sustentar o projeto. Oleginosas como a soja, produzidas em larga escala, são essenciais para que o mercado seja suprido”, avalia Carlos Freitas, engenheiro especialista na produção de biodiesel.

Com experiência na produção do produto nos Estados Unidos, ele compara os dois modelos.

“Não acho que o modelo americano, 100% industrial, seja o ideal, nem o brasileiro, só familiar. Uma mescla entre o modelo industrial e o modelo familiar seria o ideal”, avalia o técnico.

Governo privilegia famílias
Privilegiar o desenvolvimento sustentável local e prover, por intermédio do projeto biodiesel, as famílias mais pobres com uma renda digna. A premissa, retirada do site oficial da Petrobras, que coordena os investimentos em biodiesel, dá o tom de como o governo encara a questão energética.

Em discurso durante a inauguração de uma usina de biodiesel na Bahia, o presidente Lula (PT) fez a seguinte declaração: “Nunca antes na história do Brasil houve um projeto tão completo para as famílias mais pobres do que a criação do biodiesel. E, com as famílias, o Brasil também evolui. Nossa agricultura familiar vai mover o mundo”.

Oleaginosa deve variar
O professor Miguel Dabdoub, da USP (Universidade de São Paulo), um dos pioneiros na pesquisa do biodiesel, acredita que a oleginosa para a produção do biodiesel pode variar de Estado para Estado, aproveitando melhor as potencialidades de cada região produtora.

“No Centro-Oeste, por exemplo, a soja deveria ser melhor aproveitada industrialmente. No Norte, a produção da palma poderia ser mais familiar. É errado estipular um só modelo”, diz.

A opinião é compartilhada por Duarte Nogueira (PSDB), ex-secretário paulista de Agricultura. “Nunca é bom investir apenas em uma matriz. A variação regional é importante.”

14/1/2007 Eduardo Schiavoni (Da Agência BOM DIA RP)

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